Nesse bairro, ainda, os moradores dizem não ter a menor ideia de quando o lixeiro vai passar. Assim, cada casa tem ao menos dois sacos na porta.
Pelo projeto inicial, o Pinheirinho deveria ter pavimentação permeável, calçadas e praças arborizadas, sistema próprio de tratamento de esgoto, recolhimento do lixo em dia e lixeiras com espaço para separação de materiais. Cada morador teria a obrigação de tomar conta da poda da vegetação do passeio, que reserva espaço para crescimento de plantas.
Às margens da Represa Billings, o Pinheirinho foi o único bairro da cidade onde os moradores pagaram pela construção de uma estação de tratamento própria. A ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) foi inaugurada em 2003 e foram investidos aproximadamente R$ 400 mil. O valor foi pago em 20 prestações de R$ 28 para moradores e R$ 35 para comerciantes. A ETE foi fruto de TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) entre famílias, antigos proprietários da área onde está o bairro e Ministério Público.
A estação deveria evitar que o esgoto sem tratamento fosse despejado na Billings. Contudo, conforme o atual presidente da Associação de Moradores, Ironildo Boton, o ponto de tratamento é política para "inglês ver". "Uma piscina que recebia o esgoto tratado foi desativada e está cheia de mato. O esgoto vai direto para a represa", comentou.
Donas de casa apontam o mau cheiro que exala da estação como prova do funcionamento precário da estação. "A gente começou a perceber o odor há dois anos, quando a estação parou. Hoje, tenho vergonha de convidar alguém para vir em casa", disse a dona de casa Paula Suzana Miranda, 43 anos.
O resultado do mau cheiro não poderia ser outro para a aposentada Benvinda dos Santos Pereira, 67. "Dor de cabeça e náuseas. É o que a gente sente quando esse cheiro fica mais forte por causa do calor", disse.
SÓ EM SETEMBRO
A Prefeitura de São Bernardo confirmou que não existe hora determinada para a passagem da coleta do lixo, uma vez que o caminhão pode passar a partir das 7h, às terças, quintas-feiras e sábados. Sobre as calçadas que perderam o conceito ecológico e o entulho nas ruas, a administração não se manifestou. O bairro está inserido no cronograma de podas.
Já a Sabesp contradisse os moradores e informou que a estação de tratamento está com funcionamento normal. A empresa alegou ainda que utiliza asfalto ecológico nos consertos da pavimentação, que, aliás, precisam de reparos.
Prefeitura pretende ampliar conceito de projeto
A Secretaria de Gestão Ambiental de São Bernardo vai implementar projeto para avaliar a infraestrutura dos bairros ecológicos. A iniciativa vai permitir, segundo a Pasta, ampliar o conceito para outras localidades do município.
O projeto pode começar até o segundo semestre deste ano, e tem aporte financeiro de aproximadamente R$ 350 mil da Fehidro (Fundo Estadual de Recursos Hídricos). Um levantamento técnico deve apontar os conceitos ecológicos que foram perdidos nesses bairros. Em seguida, a secretaria vai elaborar uma série de oficinas educacionais com práticas ambientais, como a construção de calçadas ecológicas.
O número estimado de pessoas que vão passar pelas ações é de 64,1 mil, que vivem em áreas de manancial, às margens da Represa Billings. A duração do projeto é de 11 meses. No término da iniciativa será criado o Guia das Boas Práticas Existentes nas áreas de Mananciais.
"Vamos pegar conceitos ecológicos, colocados em prática nos bairros como o Pinheirinho, por exemplo, e levar para comunidades como o Jardim Cruzeiro do Sul", afirmou o secretário Gilberto Marson. "Ao mesmo tempo, podemos avaliar as perdas ecológicas dos bairros verdes", completou.
Conforme informou o secretário, diagnóstico dos bairros será elaborado através de metodologias como o mapa falado, que é uma forma de compreender como a população vê sua própria comunidade, aspectos relevantes, limitações, problemas, recursos e pontos positivos.
"Com os resultados das oficinas, pretendemos levar os conceitos para os demais bairros do município", continuou Marson.